segunda-feira, 30 de maio de 2011

Por dentro do bumba-meu-boi

O grande espetáculo de ritmos, sotaques, cores e sabores que contagia batalhões de admiradores e seguidores já vai começar. Vamos conhecer um pouco mais sobre o São João maranhense e o enredo da festa mais popular do Brasil e do Maranhão.


Tradição de mais de duzentos anos, o auto do bumba-meu-boi conta a história do peão Pai Francisco que, para satisfazer o desejo de sua esposa Catirina, grávida e desejosa de comer a língua do boi, mata o animal mais bonito e de maior estima de seu patrão. Com esse enredo, desenvolve-se a teatralização. O historiador Carlos de Lima (1920-2011) traça o perfil dos principais personagens do auto e dos principais sotaques (estilos) dos grupos de bumba-meu-boi.

Sotaques
Matraca - é o mais popular e com maior numero de grupos no estado. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada "Batalhão". Além das matracas, são usados pandeirões e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo fica o cordão de rajados, cablocos de fitas, índias, vaqueiros e caboclos de pena.

Zabumba - Ritmo original do Bumba-meu-boi, este sotaque marca a forte presença africana na festa. Pandeirinhos, maracás e tantãs, além das zabumbas, dão ritmo para os brincantes. No vestuário, destacam-se golas e saiotas de veludo preto bordado e chapéus com fitas coloridas.

Orquestra - Ao incorporar outras influências musicais, o Bumba-meu-boi ganha neste sotaque o acompanhamento de diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, clarinete e banjo. Peitilhos (coletes) e saiotes de veludo com miçangas e canutilhos são alguns dos detalhes nas roupas do brincantes.

Baixada - Embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques deste sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público.

Costa de Mão - Típico da região de Cururupu, ganhou este nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Caixas e maracás completam o conjunto percussivo. Além de roupa em veludo bordado, os brincates usam chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas e grinaldas de flores.

Os personagens
O Boi – Armação de varas ou cavernas, coberta com buriti e recoberta de veludo bordado, chamado “couro”, que se constituem em obras primas de arte e artesania. A cabeça é esculpida em madeira e os chifres recebem ponteiras de ouro ou metal amarelo.

Amo – É o comandante da festa, personificando o dono da fazenda, o latifundiário, o “coronel”. Usa o traje mais rico e espetacular. Com um apito dirige o espetáculo. Muitas vezes acumula as funções de cantador.

Cantador – É a pessoa mais importante depois do Amo, quando tais funções não se fundem em uma só pessoa.

Vaqueiros e rapazes – São os elementos que compõem o cordão, isto é, as fileiras de brincantes. Conforme o sotaque (estilo) diferenciam-se os trajes e o número de participantes, variando a suntuosidade de acordo com a categoria de cada um.

Pai Francisco, Negro Chico ou Preto Velho – É o cômico do espetáculo, um pobre agregado da fazenda, de roupas velhas, mascarado, a quem cabe a parte engraçada do auto, e que leva o público às gargalhadas.

Mãe Catirina, ou simplesmente Catirina – É a mulher do Chico, pivô da questão-tema. É sempre um homem vestido de mulher, o que torna mais hilariante o personagem.

O Doutor – É o médico, ou o curandeiro, ou o pajé. Completa a pantomima com suas tiradas histriônicas e sua exótica terapêutica.

Índias – Em número variável, são interpretadas por moças vestidas a caráter, isto é, com cocares, golas, braçadeiras, pulseiras, perneiras e tornozeleiras de penas; levam na mão pequenos arcos e flechas. Fazem figurações à frente do cortejo e exercem o papel de polícia na captura do Pai Francisco.

Caboclos de penas, ou Caboclos Reais – São personagens privativos do Boi-de-Matraca. O número varia de 5, 10, 15 homens. Cobertos de penas de ema, ostentam grandes coroas de metro e meio de diâmetro. Quando os bois se deslocam nos terreiros, vão à frente, num passo leve e cadenciado.

Mutucas ou torcedoras – Nos bois de antigamente, era vedada a participação de mulheres. Cabia-lhes unicamente o papel de acompanhantes, de contrarregras, coadjuvantes fora de cena.

A Burrinha – Armação de cipós e buriti, no feitio (mais ou menos perfeito) de um burro, recoberta de pano e pendurada aos ombros do brincante por meio de uns suspensórios.

Os Bichos – Em alguns bois (e o de Guimarães é característico) aparecem bichos feitos de madeira, esculpidos: carneiro, bode, águia, entre outros, conduzidos no alto de uma vara, além de uma boneca gigante – a Caipora, Panducha ou Dona Maria, hoje, por influência da TV, apelidada de Xuxa, Grampoula, etc.

Fonte: Carlos de Lima, “Universo do bumba-meu-boi” (boletim on-line nº 11 da Comissão Maranhense de Folclore, em agosto de 1998) Wikipedia

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