sexta-feira, 27 de maio de 2011

Tambor de Crioula: manifestação cultural que atravessa anos


Por Suellem Wolff

Na terra das Palmeiras onde canta o sabiá, saudada pelo poeta maranhense Gonçalves Dias, tem-se o maior número de pessoas miscigenadas de raças de todo o país. Através do plantio do algodão é que os negros chegaram ao Maranhão e, depois, formaram o Quilombo de Frechal, primeiro quilombo da região. Juntamente com os negros, chegou também, toda sua tradição mítico-religiosa que acabou se associando aos traços da cultura indígena e da européia. Com todos esses traços culturais juntos acabaram por recriar uma nova cultura que está identificada em cada passo das manifestações populares da região, como por exemplo, as danças, as rezas e as festas dessa região.

Uma das mais significativas expressões da cultura popular maranhense é o Tambor de Crioula. Esta dança é uma manifestação do folclore que está presente e associada às religiões de origem africana e por isso é de suma importância na cultura popular maranhense. Para alguns integrantes do Tambor de Crioula, a dança era realizada para comemorar a libertação de algum escravo ou para servir de protesto contra as condições de opressão na qual viviam os negros.

Tambor de crioula é uma das danças afro-brasileiras mais recorrentes no Maranhão, sendo caracterizada pela presença da umbigada, também é chamada de “punga”, é uma batida no abdômen de outro participante da roda significando um convite para que outra dançarina assuma a dança no centro da roda.

As coreiras que são assim chamadas às mulheres que dançam no tambor fazem a coreografia em formação circular, mas coreografia é executada de forma individual e consta de sapateios e requebrados harmoniosos com todo o corpo, terminando com a “umbigada”.

Os cantos que embalam as coreiras são repetitivos e o ritmo é adquirido através do uso de três tambores feitos de tronco. Os tambores são chamados de Socad or ou Roncador que é o maior tambor, o Meão que é o tambor de médio porte e o tambor pequeno que é chamado de Pererenga ou Pirerê.

No Maranhão, o Tambor de Crioula é dança de divertimentos e, ao mesmo tempo, uma forma de pagamento de promessa a São Benedito e outros santos, organizada, sobretudo pelos negros. Embora a dança não seja um ritual totalmente religioso, é uma forma dos brincantes pagarem promessas. “Eu tenho 65 anos e saio no Tambor há seis anos e é um prazer enorme dançar e pagar minhas promessas a São Benedito, pois sou de Codó e também dançava lá na minha cidade e não poderia deixar de cumprir minhas obrigações simplesmente porque saí de lá”, diz Dona Maria de Jesus Brandão que sai no Tambor de Crioula de Dona Zeca do bairro de Fátima.

Nas apresentações, uma coreira deveria entrar com a imagem do santo para que os demais brincantes prestassem homenagens ao padroeiro protetor. Dona Teresinha Jansen afirma que “este ritual começou na Fé em Deus e depois de um tempo, as coreiras dos outros grupos imediatamente passaram a fazer o mesmo. H oje todo mundo faz” (São Luís, 2003).

A dança é realizada no contexto do catolicismo popular, é comum sua concorrência em casas, culto de tambor de mina ou umban da em São Luís e costuma ser tocado ao menos uma vez ao ano, no dia 13 de maio, ou em outras datas, em homenagem a entidades religiosas que apreciam esta festa.

Em São Luís, se diz que o Tambor de Crioula é feito em louvor a São Benedito, que é santo preto e gosta de tambor. Diversos encantados gostam e também são homenageados com Tambor de Crioula, dentre eles, os Pretos Velhos, o caboclo Jarioldamo que é devoto de São Raimundo, Seu Antônio Luís Corre Beirada e outros.

Patrimônio Imaterial Brasileiro
O Tambor de Crioula é uma manifestação que só existe no estado do Maranhão, mas que aos poucos vem se tornando conhecido e difundido pelo Brasil inteiro. “O Tambor de Dona Zeca já existe há mais de 30 anos e nós nos apresentamos para pagar as promessas e também para a divulgação da cultura popular maranhense. O governo nos dá uma ajuda, mas também trabalhamos muito e esse dinheiro que o tambor recebe é distribuído entre os brincantes. E depois de todo nosso esforço quando a dança se apresenta somos contagiados por uma imensa alegria e satisfação de ver que nosso trabalho foi concluído e a promessa foi cumprida”, diz seu Luís Carlos Pereira que é o responsável pelo Tambor de Dona Zeca.

No entanto, depois do título de Patrimônio Imaterial Brasileiro, o Tambor de Crioula está cada vez mais se tornando alvo de investimentos que acabam possibilitando mudanças na vida dos personagens. “É o primeiro ano que danço no tambor e me sinto feliz por isso. Eu sempre via Dona Zeca e as outras coreiras ensaiando perto da minha casa e fiquei encantada. Ano passado eu dancei, mas sem compromisso, dona Zeca gostou e perguntou se eu não queria dançar esse ano na roda e aí eu aceitei!”, diz Thayná Cristina Pereira de oito anos que umas das crianças que dançam no Tambor de Dona Zeca.

As empresas turísticas contratam a dança e possibilitam fonte de recursos, embora estes recursos não sejam suficientes.

As apresentações acontecem durante todo o ano, mas é nos carnavais e nas festas juninas que o Tambor vive seu momento de glória, pois se apresentam em Terreiros-de-Mina, ruas, arraiais, praças públicas e em vários outros lugares.

Devido a tudo isso que está acontecendo, o tradicionalismo está perdendo cada vez mais seu espaço, uma vez que os grupos que estão iniciando decidem resolver todas as burocracias a fim de obter cadastramento nos órgãos governamentais (Secretarias e Fundações de Cultura).

O Tambor de Crioula vem sendo muito explorado nos canais de publicidades para que possa ser motivo de atrativo cultural para a cidade de São Luís.Apesar de todas as transformações que andam ocorrendo com o Tambor de Crioula podemos dizer que a cultura não é estática e é capaz de resistir a toda e qualquer manipulação a que os avanços tecnológicos e ideológicos tendem a direcioná-la.

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