segunda-feira, 25 de julho de 2011

QUEM VIU, VIU. QUEM NÃO VIU...


Por J.R.Martins

De repente, em plena caminhada pela praia da Ponta d’Areia, fui surpreendido por uma imensa barreira de pedras dividindo ao meio a mais bela das praias da Ilha do Maranhão – ou de São Luís, como é mais comumente chamada hoje em dia. Apressei-me a conversar com um operário da empreiteira que se encontrava nas proximidades. Queria me inteirar sobre a que se propõe tal monstruosidade. Apesar das detalhadas explicações que tentou me repassar, confesso que pouco entendi. E ele não era um mero operário; era um dos encarregados da obra. Fiquei com a impressão de que mesmo os idealizadores daquele absurdo quebra-mar, a que estão apelidando de “espigão”, serão incapazes de atender à minha curiosidade.

Parece-me que se trata de algo destinado a corrigir o incorrigível desatino que há anos perpetraram contra a natureza, quando represaram o histórico Rio Bacanga e mais tarde aterraram a sua margem direita. Com isso, mudaram completamente a paisagem original da cidade. Pior: pelo que sabemos, não houve a preocupação de documentar fotograficamente os locais atingidos, para que as gerações futuras pudessem tomar conhecimento de como era aquele trecho modificado.

Difícil dizer com certeza qual das duas obras foram mais prejudiciais à natureza e à cidade. O que se pode constatar sem grande esforço é que ambas contribuíram de forma determinante para o rápido assoreamento do estuário do Bacanga e do Anil. Será que o tal “espigão” reverterá esse processo? Quando tivermos uma resposta a essa pergunta, ainda estarão vivos os seus idealizadores? Quem responderá por mais um erro que possa estar sendo cometido? Se os responsáveis pelos males já causados estão assistindo a tudo de camarote, o que nos induzirá a acreditar num futuro diferente?

Onde, há relativamente pouco tempo, víamos navios ancorados, hoje constatamos que mesmo com as marés altas as pequenas embarcações encontram dificuldades para alcançar a única rampa importante que restou – a Rampa de Palácio, ou Campos Melo. Sim, porque as tais obras sacrificaram as demais, como a Rampa do Comércio, do Desterro, do Portinho, da Madre Deus e algumas outras particulares que atendiam às indústrias estabelecidas na região.

A ausência de planejamento, de preocupação com o impacto que tais empreendimentos poderiam provocar, foram fatores predominantes para o empobrecimento das cercanias da capital. As invasões proliferaram, acompanhadas da violência; os belos sítios que existiam lá para as bandas do Tamancão, da Ponta do Bonfim, da Ponta da Guia, do Boqueirão, já não mais existem. Erros idênticos foram cometidos quando da construção da Ponte de São Francisco e ocupação das terras localizadas na margem direita do rio Anil. Exceto a principal avenida, que conduz às praias, e algumas poucas ruas, o que se pode ver ali é um emaranhado de vielas ladeadas por desconfortáveis moradias, constituindo favelas propícias ao desenvolvimento do crime e comércio de drogas.

Até mesmo a península da Ponta d’Areia, considerada área das mais nobres da região, apresenta lastimáveis falhas em sua concepção urbanística, se é que realmente existiu.

Agora, olhando de perto aquele monstrengo de pedregulhos que não mais me permite ver de onde via a Ilha do Medo, as Duas Irmãs, o Bonfim, os ferry-boats zarpando com destino ao Cujupe, no outro lada da baía de São Marcos, fico preocupado com os destinos que continuam a traçar para nossa pobre e sofrida gente.

De repente me ocorre um terrível pensamento: não serão esses nossos ilustres administradores a encarnação da mitológica serpente que vive enroscada nas profundezas da ilha e agora emerge para tragar a tão decantada Upaon-Açu?

É possível.

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