quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vai ao Brasil? Cuidado!

Em alertas a seus turistas, países ricos, como Alemanha e Estados Unidos, descrevem o Brasil como um lugar perigoso e desorganizado

Enquanto governos europeus pedem socorro financeiro, o Brasil empresta dinheiro ao Fundo Monetário Internacional. O risco de calote do país é considerado menor que o dos Estados Unidos, e as agências de investimento dizem que o mercado brasileiro é seguro para investidores estrangeiros. Mas, e quando, em vez de dinheiro, o assunto é o envio de turistas? Aí a situação muda. Os governos de Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido mantêm páginas na internet para orientar seus cidadãos que pensam em viajar para o exterior. Se não chegam a analisar em detalhe cada país, as listas de dicas fazem alertas aos turistas para que avaliem a segurança e os serviços locais com olhos de Primeiro Mundo. Para aqueles que planejam vir ao Brasil, a mensagem é clara: pense duas vezes antes de viajar.

O site do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha tenta ser prático e pede que o turista reserve dinheiro para o assaltante brasileiro. "É aconselhável ter consigo cerca de € 50, em caso de rendição." O departamento de assuntos consulares dos Estados Unidos diz que as praias brasileiras "podem ser uma ameaça à segurança dos cidadãos americanos". A atenção, segundo os órgãos, deve começar antes mesmo do desembarque. O governo alemão diz que as malas podem se perder: "De um destino brasileiro a outro, é necessário retirar a bagagem do avião e recolocá-la – por mais que, ainda na Alemanha, seja dito que as malas acompanharão a escala feita pelo voo". A comunicação também preocupa: "Em geral, a língua alemã não é compreendida. Também a língua inglesa, à exceção de grandes hotéis e pontos turísticos, é pouco dominada. O espanhol é compreendido parcialmente no Sul do país. É útil ter conhecimento, mesmo que rudimentar, da língua portuguesa".

As informações contidas nesses sites repercutem. Em maio e junho, a página americana sobre o Brasil teve quase 55 mil acessos. Caio de Carvalho, presidente da SPTuris, lembra que, quando fazia parte do conselho executivo da Organização Mundial do Turismo (UNWTO, da sigla em inglês), no final da década de 1990, esses sites eram conhecidos como "livros negros do viajante" pelo rigor com que retratavam os destinos. "De certa forma, são considerados exagerados", diz. O governo britânico discorda da percepção de exagero. Afirma que atualiza as informações do Brasil pelo menos uma vez ao mês, com relatos dos consulados e acompanhamento dos jornais locais, o que resulta em uma descrição atualizada.

Hoje os britânicos são aconselhados a não aceitar notas manchadas de tinta rosa. O serviço americano lembra a derrubada de um helicóptero da polícia no Rio de Janeiro, em 2009, e a invasão de um hotel cinco estrelas na Praia de São Conrado em 2010. Diz que bueiros podem explodir e que, em junho, dois americanos foram gravemente queimados num acidente em Copacabana. Segundo o governo britânico, as informações contidas em seu site são usadas pela indústria do turismo e podem até alterar valores de seguros de viagem. "Sabemos que nossas advertências podem ter o efeito de desestimular viagens, negócios e relações políticas, mas não deixamos isso influenciar os conselhos que damos", afirma o site do escritório britânico.

Há preconceito contra países menos desenvolvidos? Difícil dizer, já que tais sites parecem rigorosos com nações ricas ou pobres. O americano, por exemplo, recomenda que turistas evitem usar o trem metropolitano de Paris para o Aeroporto Charles de Gaulle, nos arredores da capital francesa, por risco de assalto. Os EUA fizeram uma relação de 33 lugares menos recomendáveis no mundo, que inclui México e Colômbia. O Brasil não figura na lista.

A edição 2011 do Relatório de Competitividade de Viagens e Turismo, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, classificou o Brasil como o 52º lugar mais atraente num total de 139. O país ficou em primeiro lugar no quesito recursos naturais, mas apenas em 75º em segurança. A situação já foi pior. Em 2008, o país era o 128º nesse quesito. "Não podemos negar a imagem de intranquilidade, mas podemos mostrar o que estamos fazendo para melhorar", afirma Antonio Pedro Figueira de Mello, secretário de Turismo do Rio de Janeiro. Para um país que deseja usar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 como vitrines para atrair o mundo, melhorar não basta. O Brasil ainda precisa ser e parecer mais seguro para que o turista estrangeiro possa vir, passear e gastar sem medo.

Por:Autor(es): Humberto Maia Junior
Época - 18/07/2011

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