segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Praias de São Luís se transformam em esgoto a céu aberto

São Luís apresenta um sério problema ambiental, caracterizado pela poluição das suas praias. Sofrendo com um aumento populacional irracional, a cidade simplesmente quadriplicou o seu número de habitantes em apenas 35 anos, numa taxa anual que se compara as cidades do Primeiro Mundo, tais como Chicago, nos EUA. No entanto, a falta de planejamento por parte das administrações municipais e o descaso do governo estadual diante de tal situação crítica gerou problemas que colocaram em xeque a qualidade de vida de seus cidadãos.

A capital maranhense é banhada por dois importantes rios, o Bacanga e o Anil, agredidos há décadas através do despejo indiscriminado de esgoto in natura em suas águas. Nas vazantes das marés, o esgoto misturado às águas do mar que adentra tais rios leva de quebra o lixo que é jogado em suas margens. Quando a maré enche, a água poluída vai se espalhando pelas praias, que já recebem, por sua vez, esgoto sem tratamento proveniente de bares, restaurantes e prédios instalados ao longo dos anos na orla marítima da cidade, notadamente a Avenida Litorânea.

As praias representam um dos mais importantes atrativos turísticos de São Luís, ao lado do patrimônio arquitetônico. Laudo divulgado recentemente pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente sobre 21 pontos de seis praias de São Luís (da Ponta d’Areia até o Araçagi) indicam que a poluição se encontra instalada não somente na água do mar (com alto índice de coliformes fecais), mas, também nas areias da praia (lixo orgânico e inorgânico, organismos patogênicos – causadores de doenças infecciosas), uma situação intolerável que inviabiliza o lazer da população e afeta dramaticamente o turismo. Os dados alertam para um problema de saúde pública, à espera de resolução.

As áreas de praias são o habitat marinho mais vulnerável, com o agravante de São Luís ser uma ilha, o ecossistema mais frágil de todos, o que maximiza o problema. Cerca de 77% dos poluentes marinhos são de origem terrestre e o mar, que “não tem amigos nem galhos”, devolve para a terra o que recebe dela sem ter pedido. O meio ambiente marinho (oceano, mares e trechos de zonas costeiras, com presença de manguezais), segundo a Agenda 21, representa um sistema integrado que favorece a vida no planeta Terra, sendo fonte de alimentação dos seres humanos, aquecendo uma economia poderosa (somente no Maranhão existem 200 mil pescadores), além de ser importante regulador da atividade climática.

O lançamento de esgoto nas águas marinhas provoca o acúmulo de bactérias, vírus e larvas de parasitas. Um grande vilão são os coliformes fecais, que disseminam as bactérias, cuja presença indica o grau da poluição das praias. O esgoto também age como fertilizante, já que a matéria orgânica que o mesmo transporta gera crescimento exagerado do fitoplâncton, que cresce de forma desordenada, prejudicando outros microorganismos marinhos, que ficam sem espaço, oxigênio e nutrientes. Esse desequilíbrio pode dar origem á chamada maré vermelha, causada pela proliferação desequilibrada dos dinoflagelados, espécie de fitoplâncton que contém pigmento vermelho, e que são extremante tóxicos, podendo causar a morte de banhistas.

O esgoto lançado nas águas marinhas representa uma dramática ação antrópica (provocada pelo homem) que inviabiliza o equilíbrio desse ecossistema. A origem do problema é óbvia. Há décadas São Luís vem sofrendo uma ocupação desordenada, o que gerou um fenômeno urbanístico chamado de inchaço urbano. Com o crescimento irracional de prédios na cidade, em razão da predatória especulação imobiliária, sobretudo nas áreas de restingas e manguezais (basta citar o caso da ocupação da chamada Península da Ponta d’Areia), as praias foram diretamente atingidas, inviabilizando o lazer, a saúde da população e o turismo.

Outro vilão a morder os calcanhares da população é o lixo plástico, que mata anualmente em todo o planeta 1 milhão de aves marinhas e 100 mil mamíferos. O plástico possui uma vida útil extremamente prolongada, podendo levar centenas de anos para se degradar, e seu acúmulo é evidente na orla marítima de São Luís. A população precisa ser informada permanentemente sobre a balneabilidade das praias de São Luís. A limpeza dos mares e das praias é obrigação do poder público, e tal ação se encontra muito acima de querelas meramente politiqueiras. As areias das praias devem ser revolvidas regularmente, já que armazenam organismos patogênicos em maior quantidade que a água salgada. Deixar uma criança brincando nas areias das praias de São Luís, atualmente, é uma temeridade. São Luís, diante da proximidade dos seus 400 anos, se encontra à espera de ações sérias que devolvam à população aquilo que já teve de sobra: beleza e qualidade de vida.

Um comentário:

  1. Amigos, acabo de ler uma crônica do escritor e jornalista Joaquim Itapary. Trata ele do samba-enredo da "Beija-Flor de Nilópolis", para o próximo carnaval, que pretende "homenagear" São Luís pelo transcurso dos seus quatrocentos anos. Para tanto, o governo dispendeu a importância de dez milhões de reais. Dinheiro esse que bem poderia ser melhor empregado na recuperação das duas usinas de tratamento de esgotos (será verdade que realmente existem?) que pouco ou nunca funcionaram. Uma no Jaracati e outra no Bacanga, segundo fui informado. Ou, quem sabe, também não poderia ser melhor aplicado na recuperação de prédios e logradouros da cidade histórica que vivem abandonados? Acredito que os turistas - se não tantos quanto gostaríamos de receber, mas mesmo os poucos que nos visitam - não ficariam mais satisfeitos e divulgariam nossas belezas aos amigos? O carnaval passa; o samba, se não for realmente bom - e parece que a letra fica muito a desejar - também será esquecido, mas as benfeitorias que forem feitas na cidade perdurarão por bem mais tempo. Mas, como diz o vulgo nessas situações: agora Inês é morta!

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