terça-feira, 13 de março de 2012

Triste fim dos babaçuais

Roda Viva - Benedito Buzar

No final do ano passado, a população maranhense tomou conhecimento de um escândalo político, que gerou muita confusão no âmbito da Assembleia Legislativa.

Tudo começou quando a mídia denunciou deputados de receberam R$ 1,5 milhão de empresas da construção civil para aprovação de uma lei para permitir a derrubada de palmeiras de babaçu em áreas urbanas do Maranhão.

A denúncia imediatamente colocou uma espada de Dâmocles na cabeça dos parlamentares, principalmente na do deputado Stênio Resende, autor da proposta. Dias depois, os licurgos ficaram livres da espada por conta da Corregedoria da Assembleia, que, com indisfarçável esperteza e corporativismo, isentou os deputados de terem recebido o dinheiro para aprovar a chamada Lei Antibabaçu, uma afronta ao próprio Poder Legislativo que aprovara a Lei nº 338, no dia 22 de dezembro de 1952, proibindo a derrubada de palmeira de babaçu, que desde 1854 o presidente da Província do Maranhão, Eduardo Olimpio Machado, em mensagem à Assembleia Provincial, por isso clamava.

Valho-me desse triste e deplorável episódio para cotejá-lo com as ações de autoridades públicas do Maranhão, que, num passado não tão remoto, em vez de depreciarem ou minimizarem, por ignorância ou má-fé, a influência do babaçu, lutaram incansavelmente para transformá-lo num fator importante para melhorar as condições vitais da população rural e incrementar o desenvolvimento industrial do Estado.

Quem se der ao trabalho de pesquisar o babaçu, com certeza, vai encontrar, sobretudo na primeira metade do século passado, documentos, estudos, relatórios e trabalhos abundantes acerca desse produto nativo e das numerosas tentativas e tratativas, destinadas ao seu aproveitamento econômico integral, empreendidas por órgãos públicos e privados, especialmente a Associação Comercial e a Federação das Indústrias.

Nesse particular, não há como negar ou ofuscar, independentemente de qualquer juízo político sobre o interventor Paulo Ramos, desde que assumiu o comando do Executivo estadual, em 1936, até renunciar ao cargo, em 1945. Com destemida determinação, não mediu esforços e nem poupou saliva, no sentido de convencer as autoridades federais e a iniciativa privada, especialmente a mais capitalizada, para darem ao babaçu um tratamento especial, no entendimento de que o seu aproveitamento industrial, além de ser um investimento rentável, geraria progresso e renda ao país.

Ao lado desse discurso ufanista, o governante também deu provas evidentes das providências realizadas no Estado, com o propósito de atrair os investidores, destacando-se um decreto-lei concedendo vantagens às “usinas que se instalarem no Maranhão, com o aparelhamento necessário à industrialização do fruto da palmeira de babaçu, aproveitando tanto a amêndoa como a casca do coco”, dando-lhes ainda “pelo período de 10 anos, a começar da data em que iniciarem seus trabalhos isenção do imposto de indústrias e profissões e limitação em 2 %, no máximo, do imposto sobre a exportação dos produtos que fabricarem”.

Numa prova eloqüente de que as palavras do interventor não foram levadas pelo vento, logo surgiram manifestações empresariais interessadas no projeto industrial do babaçu. Um grupo de São Paulo, formado pelas firmas Bernardes & Cia, Almeida Prado & Cia e a Sociedade Paulista de Exportação, veio a São Luís e viu as condições de viabilidade econômica do projeto e as vantagens oferecidas pelo governo do Estado.

O conglomerado empresarial, com o nome de Indústrias Babaçu Ltda, escolheu o povoado de Kelru, no município de Itapecuru, para instalação da fábrica experimental destinada à industrialização do coco de babaçu, no prazo de 24 meses.

A concretização do empreendimento deu-se com a assinatura do contrato em que o Governo do Maranhão permitia às Indústrias de Babaçu Ltda, “a utilização, a título gratuito, dos frutos dos babaçuais que se encontrarem num perímetro de terras devolutas do Estado”, e assumia o compromisso de construir o aterro de Perizes e a ligação rodoviária entre Estiva e Itapecuru, através da qual se daria o escoamento da produção.

No dia 7 de agosto de 1944, Paulo Ramos inaugurava em Kelru as instalações da usina, ainda que em caráter experimental, com capacidade de extrair o óleo da amêndoa e de aproveitar todos os subprodutos do babaçu.

Depois de dois anos de atividade, no alvorecer de 1946, a fábrica começou a sinalizar problemas de toda ordem, alguns dos quais complicados e difíceis de solução, porque resultantes de erros de avaliação técnica, a começar pelo local escolhido para a montagem da usina.

Resultado: em setembro de 1946, de São Paulo, a empresa comunicava a desativação da fábrica e a demissão em massa dos empregados.

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