segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nosso Centro Histórico e o conflitante transporte coletivo

Ivan Sarney

A belíssima exposição sobre o transporte coletivo urbano e rodoviário, no Maranhão, que a Assembleia Legislativa, em parceira com o SEST/SENAT, apresentou em sua atual sede, no Sítio Rangedor, motivou-me a retomar o tema do transporte coletivo, no Centro Histórico de nossa cidade. Motivou-me pela evocação dos bondes que o caracterizavam, e que marcam a referida exposição, de forma emocionalmente profunda.

Reafirmo que caminhar por certas ruas do centro da cidade tornou-se uma tarefa difícil, pela proliferação do comércio informal, pela expansão das atividades do comércio formal e do setor de serviços, e pelo considerável acréscimo de veículos que por ali circulam e precisam estacionar nas calhas de nossas ruas estreitas.

Por outro lado, a circulação de ônibus de transporte coletivo, em parte representativa do centro da cidade, traz uma série de inconveniências de caráter social e ambiental, além de representar uma grave ameaça à preservação do conjunto arquitetônico tombado, pelos danos à fundação daquelas edificações.

Que inconveniências de caráter social e ambiental são essas? A poluição atmosférica, pelo gás carbônico; a poluição sonora, pelos elevados ruídos dos motores; os cada vez mais freqüentes engarrafamentos; os ricos de vida a transeuntes nas calçadas; a deformação da camada asfáltica, pelo peso desses veículos; o abuso de velocidade, incompatível com o centro; os aumentos no custo das passagens. Além disso, a ameaça à preservação dos imóveis tombados pelos danos causados à suas fundações pelo peso das tonelagens desses veículos, quando lotados.

Precisamos, portanto, enfrentar sem mais delongas, o problema de circulação de meios de transporte coletivos, no centro, harmonizando os interesses da preservação de um sítio histórico – hoje patrimônio da humanidade – com o desenvolvimento de atividades comerciais e de serviços, que demandam fluxo de pessoas e veículos, que precisam conviver de forma sustentável.

Como proposta conciliadora, continuo a defender o uso de bondes, baseado em argumentos históricos e contemporâneos que são difíceis de refutar. Senão vejamos: os bondes já existiram como transporte coletivo, em nossa cidade, envolvendo toda a sua área urbana, até o final dos anos sessenta, quando a febre de desenvolvimento os extinguiu. Eles tinham uma escala compatível com a cidade e percorriam suas principais ruas, movidos à eletricidade. Esse é o argumento histórico. O fato de terem sido movidos à eletricidade nos fornece o argumento fundamental de sua contemporaneidade: não eram e não seriam poluentes agora, nem do ponto de vista sonoro, nem do ponto de vista do ar atmosférico, uma vez que não produziam e não viria a produzir resíduo químico nenhum.

Além disso, tinham um custo barato para a população e eram muito bucólicos, contribuindo para um clima romântico, para um convívio social mais intenso entre as pessoas que os utilizavam, e personalizavam a nossa cidade, com muita propriedade.

Os bondes de agora não seriam os mesmos de outrora. Seriam bondes modernos, talvez mais compridos, com uma tecnologia mais moderna, com um conforto mais aprimorado, compatível com nossas necessidades de cidadãos modernos. Porém, com as características fundamentais de serem movidos à eletricidade, que temos em abundância e que não é poluente, contribuindo para a preservação da natureza e para uma melhor qualidade de vida, a partir do ar atmosférico.

Tais bondes ficariam restritos ao centro histórico, circulando em suas áreas tombadas, levando e trazendo pessoas, em suas diversas linhas que poderiam ser as mesmas dos bondes de outrora.

A proposta de reativação dessas linhas de bonde se contrapõe, para mim, à realidade que hoje está imperando na cidade, com danos a médio e longo prazo para a preservação de nosso grandioso acervo tombado, já reconhecido pela Unesco.

A realidade que está imperando é a realidade do ônibus e do micro ônibus, das Vans, de todo um conjunto de inconveniências, do ponto de vista ambiental e urbano, por serem poluentes químicos e visuais, por contribuírem para um tráfego mais lento, mais conturbado e caro, uma vez que utilizam recursos naturais esgotáveis como o petróleo: no combustível, pneus e aditivos. Esses veículos, a partir da implantação dos bondes, deixariam de circular pelo centro da cidade, restringindo-se também a circulação de automóveis, por medidas paralelas e complementares.

Não tenho a menor dúvida que a reativação desses bondes, como transporte coletivo no centro histórico, será um ponto de grande influência no processo de revitalização do núcleo tombado, fazendo com que pessoas possam transitar com mais tranqüilidade, com mais economia, com mais satisfação por essa parte da cidade.

Entendo que essa proposta é de essencial importância para o desenvolvimento turístico de nossa cidade. Ela não foi respaldada em argumentos saudosistas, mas em fatos históricos e em evidências científicas contemporâneas, o que nos leva a alimentar esperanças quanto às suas possibilidades de execução material. Amar a cidade é projetá-la dentro dos padrões e dos anseios do atual milênio. É preciso amar a cidade.

ivansarney@uol.com.br

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