terça-feira, 29 de maio de 2012

Quando os saguis sentem inveja dos gorilas

Haroldo Silva
Jornalista e radialista profissional

Em todas as sociedades, incluindo as famílias, ocorrem divergências, que às vezes se aprofundam e ganham dimensões insuportáveis. Seus membros por inveja, em razão da competência de alguns, vendo se estreitarem seus espaços e, na impossibilidade de alçarem vôos mais altos, são capazes de toda sorte de iniquidades.

Isto ocorre também com os animais, a exemplo dos primatas. Os chamados gorilas, em que pese serem considerados brutamontes pois chegam aos 300 quilos, principalmente os das montanhas, que não possuem diplomas, tem uma particularidade: são inteligentes, perspicazes e com grande visão. Em contrapartida, em outro ângulo, existem os sagüis, aqueles macaquinhos ladrões, que vivem todo tempo subtraindo o que não lhes pertence. Tal prática, transportada para o ser humano, ganha em amplitude, pelos alvos que buscam em suas incursões delituosas, macacos esses que às vezes adquirem diplomas graciosos, e sendo incapazes para o desempenho da profissão, buscam refúgios e/ou sinecuras em entidades classistas a que se vinculam e até são guindados a posições relevantes, para as quais não possuem o justo perfil, pois são tortos e desumanos. Isto mostra que nem sempre a pedra rejeitada pelos arquitetos torna-se a pedra angular, tal qual revela a Bíblia. É bom lembrar que existem pedras que se perenizam num monte de pedras e nunca chegarão a compor os alicerces de uma Catedral, ou seja, nunca sairão do nível do chão e/ou do lixão de suas inconseqüências. São seres sem nenhuma sensibilidade a ponto de não respeitarem os seus próprios mortos. Existem animais selvagens ou de outras áreas, como o tubarão, que evitam tocar em cadáveres, talvez pelo absoluto respeito que possuem por essas presas. Exemplo que infelizmente, certos seres humanos não conseguem absorver. São, em suma, verdadeiros carcarás, senão aqueles corvos famintos em busca da sua alimentação necrófraga.

Recentemente, alguém pouco conhecido na cidade rompeu a clausura de seu anonimato e, como pretendesse ser “notado”, algo como “gente, eu existo”, destilou todo seu veneno contra outro alguém que, encarnando o elevado sentimento de justiça, colocava-se, este sim, na linha de frente, como brioso infante, em defesa das liberdades e dos direitos humanos.

Como qualquer cidadão, tinha o arbítrio de pensar e pugnar pelos seus ideais, mas sem romper o solene compromisso com a verdade. Era um gladiador, sempre pronto a enfrentar os leões enfurecidos para proteger os fracos que estivessem ameaçados. Tinha o direito de selecionar humanamente as suas amizades. Não tolerava o arbítrio e estava sempre atento para arrancar as máscaras dos falsos legalistas de plantão, desses que confundem o desempenho profissional e a representatividade classista, com seus pendores ideológicos.

Era um garoto de família pobre, que desde cedo demonstrou vontade de trabalhar e vencer na vida, revelando muita dignidade, como filho exemplar, estudante aplicado, em todas as etapas de sua formação educacional, até atingir a plenitude de sua carreira profissional.

Nunca pretendeu ser melhor do que ninguém. Fazia sua parte, tinha seu estilo de abordagem dos temas que cuidava, por sinal, com singular talento.

Era, afinal, um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones; que brincava de papagaios, de bolinhas de gude, que soprava nos canudos de mamão suas bolas de sabão e disputava suas peladas nas ruelas dos Barés, nas cercanias do bairro do João Paulo.

Por falar a verdade, contra a corrupção, situando os corruptos e revelando seus crimes em todos os seus ângulos com a intrepidez de um Líbero de Badaró, de um Cruz e Souza, de um Joaquim Nabuco, de um David Nasser e até mesmo de um Carlos de Lacerda, além de outros patrícios nossos, jornalistas ou não, tombou com a grandeza dos mártires, inclusive os bíblicos João Batista e Estevão.

Sua execução remonta aos tempos da Máfia de Chicago, sob o domínio de Al Capone, que eliminava todos aqueles que contrariassem seus delituosos interesses, com o conluio de pessoas importantes, as quais oferecia portentosos banquetes para festejar o desaparecimento de seus adversários. O tempo passou e a justiça foi feita, pois ele pagou por todos os seus crimes. Aqui ocorrerá o mesmo, pois Deus é Pai.

Queiram ou não alguns poucos, passa à história e deixa um exemplo de destemor para a posteridade.

Descansa em paz, menino Décio, no berço dos justos.

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