quinta-feira, 21 de junho de 2012

Crise e incertezas dão 'significação especial' à Rio+20, afirma Dilma

Rio - O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, discursaram durante a abertura cerimonial da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a Rio+20, ontem.

Mais cedo, os dois já tinham participado da abertura formal dos trabalhos, quando Dilma foi eleita por consenso presidente da Rio+20, mas falaram apenas brevemente.

Dilma abriu a solenidade às 16h30 e apresentou um vídeo enviado pelos astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).

Em discurso, a presidente afirmou que a concretização do desenvolvimento sustentável pode ser traduzida em três palavras: "crescer, incluir e proteger".

“A transferência das indústrias mais poluentes, do norte para o sul do mundo, colocou as economias desenvolvidas no rumo de uma produção tida como mais limpa. Mas deixou pesada a carga e a conta socioambiental para os países em desenvolvimento. A promessa de financiamento do mundo desenvolvido para o mundo em desenvolvimento com vistas à adaptação e à mitigação ainda não se materializou nos níveis prometidos e necessários”, disse a presidente.

Responsabilidades - Dilma também lembrou que o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, em que os países ricos teriam mais responsabilidade que os pobres na promoção do desenvolvimento sustentável, “tem sido, muitas vezes, recusado, na prática”.

Em seu discurso, a presidente também disse que os compromissos de redução das emissões de gases poluentes, previstos pelo Protocolo de Quioto, não foram atingidos, e que várias conquistas da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio92, permanecem no papel. “Temos a responsabilidade de agir para mudar esse quadro.”

Segundo ela, nesse cenário de crise econômica mundial, a tentação de manter os interesses nacionais acima dos temas globais é forte. “A disposição política para acordos vinculantes fica muito fragilizada. Não podemos deixar isso acontecer”, observou.

A presidente disse ainda que o modelo de desenvolvimento do Brasil, que avança no sentido da sustentabilidade, autoriza o país a demandar mais contribuição dos países desenvolvidos. Na sua avaliação, o documento final da Rio+20 trouxe avanços, entre eles a introdução da erradicação da pobreza como desafio global, o pioneirismo de falar de igualdade racial, a criação do Fórum de Alto Nível global para tratar do desenvolvimento sustentável, o fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o reconhecimento de que o Produto Interno Bruto (PIB) é insuficiente para medir a riqueza dos países.

Ban Ki-moon - Em seu discurso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também elogiou o texto da conferência. "As negociações foram longas, árduas, muito difíceis mesmo. Contudo, fizemos progressos significativos, principalmente nos ultimos estágios", afirmou.

"Fizemos história esta semana. Estamos perto de fazer um acordo que pode criar nosso futuro sustentável", disse ainda o secretário, sobre um texto que organizações da sociedade civil têm considerado pouco ambicioso.

Plenárias - A segunda sessão plenária do segmento de alto nível da conferência começou por volta das 15h15 de ontem. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, foi o segundo a discursar na segunda sessão, depois da Costa Rica.

Ahmadinejad começou sua fala evocando Deus e desejando aos companheiros "saúde" para seguir "o profeta". Segundo ele, a busca pelo lucro e realização material tem elevado o nível de animosidade no mundo. “Não devemos buscar hegemonia à custa de outros povos e seres humanos que habitam o planeta”, afirmou em discurso.

Ahmadinejad criticou o que considera ser um sistema "imperialista" que domina o mundo. “Um grupo minoritários de países, os chamados países desenvolvidos, estão impondo padrões de desenvolvimento, e os outros países são forçados a seguir os seus passos”, afirmou e completou, no que parecia um recado a críticos de seu governo: "As questões de direitos humanos foram concebidas para servir àqueles que dominam o mundo".

Abertura formal - Durante a primeira plenária da cúpula de alto nível, representantes da sociedade civil fizeram fortes críticas ao documento que será negociado até amanhã.

O encontro foi aberto pelo secretario-geral da ONU, Ban Ki-moon. "Novamente o Brasil é palco para [...] eventos de mudança. Estamos agora no local de um acordo histórico. não vamos perder essa chance. O mundo está observando para ver se as palavras vão se tranformar em ação", disse Ban Ki-moon.

Em seguida, ele chamou a neozelandesa Brittany Trifford, de 17 anos, para discursar aos chefes de Estado. "Suas promessas não foram quebradas, mas foram esvaziadas", disse Brittany. "Você estão aqui para salvar as suas peles ou para nos salvar?", questionou.

Sociedade civil - Em discurso, nove representantes de grupos da sociedade civil, como crianças, mulheres e ambientalistas, criticaram publicamente o rascunho do documento resultante da conferência e pediram que os governos consigam revertê-lo.

Segundo Hala Yousry, representante das mulheres, o texto não trata nada a respeito da destruição de plantas nucleares e também não protege os direitos femininos. “O desfecho da Rio+20 não nos dá os meios necessários para lidar com os grandes desafios do nosso tempo”, disse.

Ela, que é do Egito, citou a realidade atual do seu país, que vive a Primavera Árabe, e comparou com a conferência. “O que conseguimos no Egito com a última eleição parlamentar? Ao menos dois assentos. O que as mulheres conseguiram no Rio? Muito menos do que esperávamos”, disse.

Karuna Rana, representante das crianças, disse que mesmo o documento tendo sido resumido em 50 páginas, ainda “há muitas linhas que precisam ser incluídas”, como o reconhecimento da pressão humana sobre o planeta, garantia das instituições mundiais de proteção ao meio ambiente e “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” na transferência de tecnologia.

Ban Ki-moon diz que é a hora de agir

Rio - O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, fez um chamado geral ontem aos chefes de Estado, durante seu discurso de abertura da fase final da Rio +20 (conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável), que vai até amanhã no Rio.

Ele disse que essa é a hora de agir com visão mais ampla e de longo prazo e recomendou decisões e estratégias claras sobre o emprego, segurança alimentar, energia, água, oceanos, dos transportes e cidades. "Estou contente de ver uma ênfase na educação no documento final", disse.

O representante das Nações Unidas disse também que é chegada a hora de decidir sobre as instituições que precisam guiar no desenvolvimento econômico, social e ambiental no mundo. Ele disse que a Rio +20 é um momento histórico para o mundo e que espera que seus netos não precisem convocar a Rio +40 ou Rio +60.

O secretário-geral disse de manhã, durante a abertura das negociações da cúpula da ONU, que também esperava um documento "mais ambicioso" da Rio+20.

Ele fez um apelo aos líderes mundiais presentes no Rio que desempenhem seu papel como "cidadãos globais", indo além de "interesses internos e de grupos" para fazer as escolhas certas para o futuro.

"São os líderes que podem tomar decisões políticas, que podem fazer uma escolha. Temos muitas agendas com as quais estamos preocupados, e, dependendo da prioridade política que eles escolham, as consequências serão completamente diferentes", disse Ban. "Por isso contamos com esses líderes e peço que eles atuem como cidadãos globais."

Negociação - Ele destacou que o processo de negociações do documento que resultará da Rio+20 final foi um processo delicado, por tentar conciliar os interesses da cada país.

"Alguns Estados-membros esperavam um resultado mais ambicioso. Eu também esperava um documento mais ambicioso, mas é preciso entender que as negociações foram difíceis e lentas, devido a ideias conflitantes", observou, destacando que a Rio+20 "não é o fim, mas o início" dos compromissos entre os países.

Ban ainda afirmou que os países aqui presentes devem se "inspirar" nos exemplos de sucesso do Brasil. "O Brasil tem muito potencial, mas grandes desafios. E todos os desafios que o Brasil enfrenta podem nos servir de lição durante a Rio+20.

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