terça-feira, 5 de junho de 2012

CUIDADOS COM ANIMAIS

JR Martins

Está em contínua e crescente evidência o interesse pelos animais. Animais a que me refiro, no caso, não são os animais silvestres. Não são aqueles que viviam livremente nas florestas por milhares de anos, compartilhando do bioma do qual fazemos parte. Não são aqueles que há muito tempo vêm sendo perseguidos e abatidos pelo homem, maior predador da face da terra. Com esses ninguém se preocupa.

A Amazônia e o pouco que resta da Mata Atlântica são impiedosamente devastados sem que nós, brasileiros, teoricamente os maiores interessados, nos manifestemos de forma concreta em sua defesa. Com elas, vão-se também seus habitantes  naturais – os animais.

Quando os colonizadores aqui chegaram, fizeram com os aborígenes, denominados erradamente índios, o mesmo que agora fazem com nossa fauna. A perseguição aos índios continua, convém afirmar, embora já não existam tantos e a maioria tenha se integrado – entregado, melhor dizendo – à “civilização” e à vontade dos homens. Costumamos reprovar o morticínio aberto deflagrado pelos invasores, em nome da catequese e da necessidade de ocupar “racionalmente” o imenso território que alegam ter descoberto. Como se as terras da América já não fosse ocupadas por gente que nelas nasceu e cuja origem ninguém sabe precisar. Apossaram-se com toda a pompa e direitos outorgados pela Igreja e monarquias de além-mar.

Sou um modesto contribuinte de uma das mais respeitadas organizações internacionais de defesa do meio ambiente – Greenpeace. Por diversas vezes, instigo meus amigos também a ela filiarem-se, mas não tenho conhecimento de algum que tenha se interessado. Parece que a sobrevivência do planeta e, consequentemente, da humanidade, não nos atinge individualmente.

Todas essas considerações que faço se devem ao fato de que, nos dias atuais, em nosso país, a preocupação, os cuidados para com os animais, se voltam exclusivamente para aqueles que convivem conosco em nossas casas. Aqueles que passaram a ter o mesmo tratamento que têm nossos filhos. A ponto de já existirem tantas ou mais clínicas para animais domésticos do que para seus proprietários. Digo proprietário, mas não sei se o termo agrada aos que possuem seus animaizinhos de estimação. Eles provavelmente vão preferir ser chamados de pais.

Os hotéis destinados a hospedar tais criaturas espalham-se pelas cidades; salões de beleza; clínicas psiquiátricas para curar os estresses, depressões e outros males que afligem as pobres criaturas; lojas especializadas em alimentação especialmente preparadas para não prejudicar a frágil saúde dos bichinhos; lojas de roupinhas de grife, de calçados sob medida; até mesmo cemitérios luxuosos, com direito a crematórios já existem por aí. Enfim, um mundo de artigos e locais especialmente preparados para agradar mais aos pais do que aos pretensos interessados.

Há pouco tempo, quando procurava entrar em meu carro, fui abordado por um dos três pequenos cachorros de uma vizinha. Queria por que queria lamber-me a perna. Eu estava de bermudas e ele, certamente, achou que seria delicioso afagar-me com a língua. A minha reação contrária não agradou àquela senhora, que imediatamente chamou a “criança” para junto de si e olhou-me com desprezo de cima a baixo. A partir daquele dia pouco nos cruzamos, mas sempre que me vê desvia o olhar e fecha o semblante.

Costumo avaliar que se um motorista atropelar alguém com seu carro, a reação dos espectadores será bem mais complacente do que se a vítima for um cachorro. Já não gosto de chamar cachorro de cachorro, pois soa como depreciativo. O correto, pelo que me parece atualmente, é cão. Se assim forem tratados já é um passo para conquistar simpatias.

Se não estou enganado, no Brasil, a população de caninos já ultrapassa em muito a casa dos cinquenta milhões. Convenhamos que é um número bastante grande de indivíduos para alimentar e tratar. As indústrias do ramo se tivessem boca e dentes, estariam com eles arreganhados de tanta satisfação.

A quantidade de gente que mendiga pelas ruas, dorme em calçadas, come a sobra dos lixos, morre à míngua e de frio é muito grande. Em conversa, escutei muitas vezes as pessoas dizerem que não dão esmolas, não ajudam esses pobres diabos sem a mínima expectativa  de melhorar de vida. Mas, também conheço gente que já acolheu cachorros abandonados, os levou para casa e dispensou-lhes tratamento que não sabem dar aos seus semelhantes. Igualmente conheço quem já gastou, ou ainda gasta, grandes somas para tratar em clínicas caras os seus pequerruchos que sofrem de doenças que os desamparados seres humanos não conseguem tratar junto ao SUS.

Aos pequenos animais é permitido usar as áreas públicas como latrinas, pondo em risco a saúde de quantos pisarem seus dejetos. Algumas insignificantes campanhas procuram conscientizar seus donos a coletar as porcarias e depositar no lixo. Mas não conseguem êxito. Quanto aos homens... Bem, quanto aos homens, já existem leis severas que proíbem terminantemente urinarem em vias públicas, ainda que em situações extremas e escondidos atrás de árvores. Mesmo na ausência de sanitários públicos. Atentado ao pudor? Vê se pode!

A imprensa, especialmente a televisiva, tira proveito de toda essa situação, para ganhar mais alguns pontos no Ibope, e expõe pessoas que por qualquer motivo que seja (acredito que nem sempre  por instinto de maldade) espancam seus animais. A vizinhança, claro, vibra com a possibilidade de filmar a cena e transformar-se por alguns instantes em vedetes.

Agora mesmo aconteceu uma dessas situações. Uma senhora filmou uma vizinha espancando seu cão e enviou o vídeo à mídia e à polícia. Depois de muito estardalhaço, como é de hábito, a agressora foi devidamente intimada a prestar esclarecimentos e está sujeita a sofrer sérias sanções punitivas.

Um pit-bull foi recentemente morto por um segurança de uma empresa quando estava prestes a ser atacado. O fato causou profunda comoção popular depois que a mídia deu o costumeiro destaque. Certamente o homem será punido. Todo mundo sabe que esses cachorros são excessivamente agressivos e já têm matado muitas pessoas, principalmente crianças indefesas. Nessas ocasiões todos são favoráveis à eliminação da raça. No presente caso, talvez o homem devesse ter sido mais paciente e esperasse primeiramente ser atacado, antes de tomar uma providência tão radical. Se ficasse muito mutilado ou viesse a morrer, certamente todos teriam compaixão e se perguntariam por que não eliminou antes o animal.

Coisas que acontecem e não sabemos explicar.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que faltou pesquisa para sua materia. Existem inumeros grupos espalhados pelo mundo inteiro que lutam fervorosamente por melhores condições e o fim da exploração de animais nativos das faunas de seus países, aqui mesmo no Brasil há grupos de proteção a aves silvestres e outros animais que sobreviveram ao comercio ilegal, mutilados, que nunca conseguiriam sobreviver na natureza.

      Agradeça por essa sociedade que cuida mais de seus bichos, pois isso demostra a grandeza de um povo, ao se preocupar com vidas menores. Ao mesmo tempo, há uma ligação comprovada cientificamente entre maus-tratos a animais e serial-killers e estupradores. Uma nação que se importa com cães e gatos é uma nação mais sadia mental e emocionalmente, que se importa com diferenças, que respeita crianças, idosos, homossexuais e que busca melhorias para todos.

      A quase 6 anos ajudo animais de rua frutos do descaso de nossa sociedade maranhense com os animais. Animais que eu não coloquei na rua, que eu não maltratei, mas que assumo minha responsabilidade social, já que as pessoas realmente responsáveis, como o governo, não fazem. Tiro do meu bolso para ajudar esses bichos vitimados por nós. Animais abandonados, maltratados, no momento tenho em meus cuidados um gatinho que teve as orelhas mutiladas.

      Atualmente trouxe do Canadá os ideais para começar o Projeto Felinos Urbanos, pioneiro no nordeste, que captura, esteriliza e devolve gatos ferais e semi-domiciliados, fazendo controle populacional e de zoonoses, além de oferecer castração e atendimento veterinário para animais de pessoas carentes de São Luís.

      Quanto ao pitbull, devemos lembrar que este animal é mais uma vitima humana, utilizado para ganhar dinheiro em rinhas em troca de seu sangue.

      O animal em questão, na verdade, uma cadela, era docil e estava indo se consultar no curso de veterinária quando foi covardemente atacada pelo segurança, ainda junto a seus donos. Sim, existem cães de qualquer raça desequilibrados por maus-tratos, mas tb existem pessoas que, assim como atacam negros e gays, tb atacam animais por seus proprios preconceitos.

      E, engana-se que animais de raça pura não sofrem. Sim, muitos são tratados com luxo, mas vá em qualquer ccz ou fale com qualquer ong e protetor sérios. A maioria deles são descartados como lixo velho assim que a moda passa ou se tornam grandes demais, velhos e doentes. E isso é apenas um reflexo dessa sociedade desumana, em relação não somente aos animais, mas em relação a seus proprios semelhantes.

      Excluir
  2. Acho que, na verdade, faltou foi bom senso da parte do autor. Hora você defende os animais silvestres e logo depois profere essas palavras de ÓDIO contra animais domésticos, em especial o cão. Onde está a lógica nesse tipo de pensamento? Se é pra defender TODOS, é pra defender TODOS, não? Sua opinião pessoal é uma coisa, ninguém é obrigado a gostar de cães ou de gatos, mas escrever um texto desse tipo, defendendo os animais (inclusive os humanos) e depreciando uma única espécie é no mínimo hipocrisia.

    Quanto aos índio, faz-me rir. Moro numa terra onde mais da metade do estado é território indígena, de preservação. Não me convence esse seu discurso de que os índios são perseguidos, quando moro num estado onde os índios tem mais privilégios que qualquer outro ser.

    ResponderExcluir