segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mais um prêmio para lembrar um mestre da cultura popular

Ele já compôs mais de mil toadas e está lançando CD para comemorar seus 40 anos à frente de um dos mais expressivos e tradicionais grupos folclóricos do Maranhão. O cantador Humberto de Maracanã acaba de realizar mais um sonho: ver sua obra e a de todo o batalhão do Boi de Maracanã reunidas no Memorial Hermínio Barbosa, um museu que contará a história da manifestação folclórica. O nome do projeto é em homenagem a um dos incentivadores do grupo e que integra a lista dos “velhos guerreiros de Maracanã”.

O memorial, que abrirá as portas para a comunidade a partir de amanhã, foi viabilizado por meio do Programa de Fomento aos Museus do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e reunirá acervo com indumentárias, galeria de fotos de antigos colaboradores, cantadores e presidentes da manifestação folclórica, bem como placas, troféus e condecorações de Humberto de Maracanã ao longo de 40 anos de carreira. “Esta é mais uma realização, e consideramos muito importante para a história do boi, pois ficará para as futuras gerações”, disse Humberto de Maracanã.

O cantador está duplamente feliz. Este mês, foi contemplado, ao lado de outras personalidades regionais, com o Prêmio da Música Brasileira, em solenidade realizada no dia 13, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O maranhense, que recebeu o troféu das mãos da atriz Luana Piovani, foi contemplado por ter participado do CD Na Eira, do projeto Ponto BR, iniciativa do suíço Thomas Rohrer que reúne músicos de São Paulo, Maranhão, Recife e Suíça.

Dona Zezé de Iemanjá, caixeira do Divino, e Henrique Menezes, ambos integrantes da Casa Fanti Ashanti, terreiro tradicional de São Luís, além de outros mestres da cultura popular brasileira como Eder “O” Rocha (Recife), Renata Amaral (São Paulo) e Walter França (Recife) completam o grupo. A iniciativa propõe o espaço da arte como local de encontro e diálogo possível entre vertentes e gerações, na qual as diferenças estéticas e sociais são harmonizadas revelando outra via para o “fazer artístico”. Humberto representa bem essa veia regional, pois está inserido em um contexto social fortemente ligado à questão das raízes culturais.

No álbum do Ponto BR, o cantador maranhense participa na faixa Estrela/Estrada Linda, com Walter França. “No Rio de Janeiro, na hora em que recebi o prêmio, dediquei o troféu a todos os maranhenses, pois estava lá representando a nossa gente e a nossa cultura”, disse Humberto, que foi aplaudido de pé, assim como o cantor Cauby Peixoto, pois eles eram os dois mais velhos entre os artistas contemplados.

Humberto Barbosa Mendes, ou simplesmente Humberto de Maracanã, está com 72 anos, mas não se cansa de fazer o que mais gosta: puxar toada para o batalhão do Boi de Maracanã desde 1972, quando substituiu o cantador Ângelo Reis. Ele se mantém firme e forte no comando musical da manifestação folclórica. Sua paixão é compor, cantar e perambular com o batalhão pelos terreiros nas noites de São João. Na quarta-feira (20), ao fim da tarde, foi visto caminhando pela Praia Grande exibindo com orgulho o troféu que recebeu no Prêmio da Música Brasileira.

Presidente do Boi de Maracanã, Maria José Mendes, esposa de Humberto, destacou que o que mais lhe chamou a atenção na solenidade do Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi a união entre os artistas premiados, entre eles Alcione, Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho. O homenageado foi o compositor e cantor João Bosco. “Achei fantástica a união entre todos eles, inclusive o carinho com Humberto”, disse Maria José Mendes.

Homenagens - Humberto de Maracanã é ícone da cultura maranhense e já foi homenageado outras vezes. É detentor, por exemplo, do Prêmio Culturas Populares do Ministério da Cultura e também foi condecorado com a Ordem dos Timbiras. Considerado um dos maiores compositores e cantadores de bumba meu boi de todos os tempos, ele é a estrela maior da comunidade centenária do Maracanã, estância urbana de São Luís. Está acostumado a compor vários gêneros musicais e experimentou parcerias com artistas como A Barca, Siba, Alcione, Tião Carvalho, Beto Villares e Ubiratan Souza. O cantador já participou de concertos, documentários e vários projetos de registros ao longo da carreira, a exemplo de Tambores do Maranhão, Música do Brasil, e Turista Aprendiz, além de ser tema de teses e pesquisas em todo o Brasil.

Em 2007, lançou o DVD documentário Rio do Mirinzá e o CD Estrela Brasileira. O atual projeto, um CD com 40 toadas, circulará a partir de terça-feira e tem a participação de outros cantadores maranhenses, entre eles Chagas (Boi da Maioba), Chiador (Boi de Ribamar) e Inácio Pinheiro e Roberto Brandão (Boi Barrica), entre outros.

Humberto Barbosa Mendes começou a soltar a voz para o Boi de Maracanã em 1972, depois que Ângelo Reis deixou o microfone. De lá para cá, já são mais de mil toadas e um número incontável de apresentações e participações em 40 festas de São João, de forma ininterrupta. Nos terreiros, a voz dele, juntamente com as matracas e pandeirões, embala mais de mil brincantes, entre eles os personagens principais do auto do bumba meu boi maranhense.

Nas noites de São João, o Boi de Maracanã circula pelos terreiros com a ajuda de vários ônibus para o transporte de todo o batalhão. Ontem aconteceu o tradicional batizado da manifestação folclórica, no Maracanã, e hoje, no dia de São João, o grupo faz apresentações, com Humberto no comando.

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