quinta-feira, 5 de julho de 2012

Especialista, Dr. Mário Beni, analisa o turismo brasileiro

Durante o Encontro dos Empresários de Turismo em São Luís, a reportagem do Jornal Cazumbá, entrevistou com exclusividade o Professor Doutor Mário Carlos Beni*, membro representante da Américas no Conselho de Ética da OMT - Organização Mundial do Turismo, que falou entre outros assuntos, sobre as reais perspectivas Brasileiras para os próximos anos em relação ao turismo.

Para ele, nós estamos ainda vivendo um processo reinterante de déficit na balança turística, déficit que ascende hoje a algo em torno de 1bi e meio de reais por mês.

“Considerando o receptivo que vem se apresentando desde 2001 nós temos cravados aí, com quase 10 anos, cerca de 5 milhões e 100, 2011 fechou com 5 milhões e 400 mil turistas. Para um emissivo, na verdade o nosso emissivo, a última estatística foi em 2007, então nós estamos aí defasados; há 4 anos que o Ministério não publica a questão do turismo emissivo, mas nós na universidade temos acompanhado, fizemos algumas projeções e estimamos que 2011 tenha fechado em torno de 9 milhões e 400 a 9 milhões e 500 mil turistas, então aí você percebe o déficit que existe entre o emissivo e o receptivo”.

TURISMO INTERNO
Beni afirma que o Brasil continua a ser um país eminentemente emissor e não receptor de turismo. “Claro que dentro desse quadro há uma coisa muito boa, há um cenário que nos anima que é o crescimento do turismo interno, isso foi excelente e está ultrapassando as previsões, projeções e estatísticas que até então tínhamos. Nós estamos nos aproximando muito rapidamente a 60mi de turistas, fechou com 58mi de turistas que circulam no país, claro que por conta das medidas do governo federal que tornou possível uma ampla mobilidade social que atingiu algo em torno de 50mi de habitantes, ou seja, que passaram da classe C para classe B em torno de 30mi e da classe D para classe C algo em torno de 20mi totalizando 50mi de habitantes que conseguiram esta mobilidade social.”

E continua: “Então, isto ampliou efetivamente a questão das viagens internas e nos colocou como o único país do Mundo que teve esse crescimento exponencial do turismo interno, já passamos muito próximo a taxa de partida em férias que é ideal definida OMT de 7.6, já ultrapassamos isso da população como taxa de partida em férias. Isto é gratificante e a razão principal é efetivamente essa questão da mobilidade social que atingimos.”

SUSTENTABILIDADE
Mário Beni aproveitou também para falar sobre o turismo sustentável e apontou alguns caminhos. Segundo o especialista, uma região para se desenvolver com o turismo sustentável, precisa começar a vender o seu próprio produto. “O produto turístico precisa ser consumido primeiramente na própria região e isto não tem ocorrido com a questão de um mecanismo que eu chamo de governança participativa, de governança de sustentabilidade da comercialização do produto turístico na própria região.”

Para Beni, “a maioria das regiões turísticas querem imediatamente um fluxo interno, buscar o fluxo nacional, buscar o turista do sul, etc., mas esquece que um estado como o Maranhão com esta imensidão territorial tem um demanda interna reprimida muito grande. Então,  porque não buscar essa demanda interna reprimida e depois amplia-la regionalmente pegando o nordeste. Esse trabalho que você faz de resgate da cultura que é muito arraigada e típica do Maranhão, precisa ser em toda região e em todo país. Vai muito por aí, é uma coisa muito simples, muito fácil de fazer, mas os agentes, as operadoras locais ficam olhando lá em baixo uma amplidão maior e esquecem dessa demanda reprimida interna. Temos que começar a buscar, isso eu tenho falado em relação a Amazônia, tenho falado com relação a outras regiões.”

BOAS PRÁTICAS
“Eu tenho o exemplo vivo disso porque quando eu fui trabalhar como docente do corpo de Pós-Graduação do programa de mestrado do Rio Grande do Sul, isso há 15 anos atrás, nós começamos com um trabalho e hoje a Serra Gaúcha é o primeiro território que nós poderíamos caracterizar como cluster de turismo, é uma rede de produção. Muita gente confunde arranjos produtivos com rede de produção que é o caminho final para se chegar ao cluster. A região do país que está muito próxima de ser, não é ainda, um cluster turístico é a do Rios Grande do Sul, a região de Caxias e das Serras Gaúchas, Gramado, Canela, Bento Gonçalves. Isso precisa ser feito em outras regiões do país, como começou lá, trabalhando exatamente com a região, eles se visitando entre eles e aí foi ampliando, depois de cinco ou seis anos começando com os arranjos produtivos e chegando a rede de produção com toda sensibilização e conscientização da população se chegou efetivamente a definição de um produto turístico regional que acabou sendo o transferido pro consumo nacional com a CVC. Um modelo que precisa começar a ser desenvolvido aqui no Maranhão e em outros estados.”

POTENCIAL TURÍSTICO DO MA
“Costumo dizer que o Maranhão tem um potencial extraordinário. Eu sou apaixonado pelos Lençóis Maranhenses, eu tive muitas vezes lá, tive pelo lado do Maranhão e entrei pelo Piauí, pelo Delta do Parnaíba. Eu não entendo porque o sucesso, do exemplo que eu dei ainda pouco da Serra Gaúcha, não é aplicado, porque na Serra Gaúcha a Universidade de Caxias do Sul que é uma universidade não só atuante, mas com uma característica importante, ela é uma universidade com campi em todos os municípios da região, quer dizer ela é uma universidade comunitária. Então, ela atua com muita presença e foi por meio dos vários departamentos que nós conseguimos fazer o desenvolvimento do turismo da Serra Gaúcha. Eu uso sempre como exemplo porque foi possível fazer a mobilização, a sensibilização da sociedade para trabalhar efetivamente com aquilo que eu chamo de força social, se não houver efetivamente essa união, o que eu acho muito difícil. Resumindo isso tudo para você, eu acho que o Brasil ainda não encontrou, apesar de ter o ministério do Turismo, apesar de ter toda essa instrumentação de planejamento estratégico, não consegue visualizar o que eu chamo de Instancias de Governança Regional, ou seja, IGR.”

IGRs
Beni reforça a importância do entendimento entre as Instâncias de Governanças. Segundo ele, enquanto não houver um entendimento entre essas instancias, ou não houver uma identificação muito correta destas instâncias e elas trabalharem em conjunto, nós não vamos conseguir, em lugar nenhum, voltar a resgatar isso tudo que nós necessitamos para trabalhar com o desenvolvimento sustentável  do turismo. Os cenários de sustentabilidade só serão assegurados a partir destas Instancias de Governança.”

Ele continua ressaltando que: “Se você for fazer uma pesquisa no primeiro setor, você vai ficar estarrecido porque a Secretarias não se falam entre si, o secretário A não fala com o secretário B, quando falo não fala, não há dialogo, não há interface. Quando o turismo só acontece pela inter e transdisciplinalidade e pela transversalidade das ações ele não acontece, isso tanto em nível municipal, estadual e eu lhe afirmo que em nível federal. Nós estamos assistindo esta historia há muito tempo. Quantos programas você já ouviu falar, primeiro era o plano nacional de municipalização do turismo PNMP, no seu tempo de estudante, agora é o Plano de Regionalização e agora na ultima reunião do Conselho Nacional de Turismo  apresentaram um outro plano sem acontecer o Plano de regionalização, e por uma razão muito simples, as instancias e governanças regionais jamais foram identificadas, não é que o ministério está errado, o ministério está correto em suas diretrizes, estava correto nas suas diretrizes estruturantes com relação ao plano de regionalização, mas não chegava na ponta nem o recurso e nem a orientação.”

O professor aponta ainda que: “Nós estamos vivendo o século da convergência, o século da parceria e não há parceria nem entre o primeiro setor e nem entre o segundo com o primeiro setor que é o empresariado a PPP que tanto se fala, a parceria pública e privada, eu ainda estou procurando por ela, é muito rara acontecer. Na verdade, existe consórcios, e a gente sabe como são esses consórcios, todos nós sabemos, mas chamar isso de parceria público privada...Então, é por aí que eu acho que se realmente houver todas essas instancias de governança regional isto vai efetivamente acontecer. Eu vou hoje na minha fala deixar muito claro, eu estou preocupado com o que está acontecendo no nordeste, não está acontecendo ainda no Maranhão, mas já aconteceu no Ceará, Rio Grande do Norte, há um processo crescente de desterritorialização no litoral do nordeste, e o pior a Espanha gasta hoje 55bi de euros, ela já gastou isso, para demolir um modelo de turismo residencial na Costa do Sol, nós estamos importando esse modelo para o nordeste.”

GLOBALIZAÇÃO E TURISMO
O professor falou também como a globalização vem influenciando o turismo. Beni ressalta que: “O turismo foi um grande instrumento da globalização, talvez um dos maiores instrumentos da globalização, entre tantos como a tecnologia que facilitou a comunicação e essa seria o primeiro fator, o turismo está entre os primeiros fatores que determinaram a globalização. Veja essa participação como é importante, mas temos problemas muito sérios, hoje eu diria a você que 85% cresceu mais 20, na década de 70 era em torno de 75%, hoje 85% no trafego aéreo, trafego turístico está no Atlântico Norte na Europa e Estados Unidos, então veja o que sobra para os demais países da América do Sul, Oriente Médio, Sudeste Asiático etc. A participação da América do Sul no trafego turístico mundial é de 3%, o do Brasil 0,5% de participação do trafego turístico mundial, não chega a 1% e somos um continente.”

Beni continua, explicando que: “Se você fizer essas analises comparativa você vai situar o Maranhão no contexto do turismo brasileiro com o grande potencial que ele tem, que ainda está preservado porque eu não sei até quando vai ser preservado, com isso então precisa fazer as coisas acontecerem corretamente com muita segurança e com muito planejamento para evitar o que já aconteceu nos outros estados. O Ceará em 2007, foi a última pesquisa de demanda que foi feita no Ceará. Em 98, eu participei dessa pesquisa, o Ceará tinha 7% do trafego do turístico interno do país a Bahia chegava a 12 quase 13%, o nordeste tinha algo em torno de 30% do trafego turístico interno do país. Hoje, a última pesquisa foi em 2007 o Ceará baixou para 3% e o nordeste 18%.”

O professor alerta que essa queda se deve, principalmente, ao alto custo da hotelaria no país. “Primeiro coincidentemente foi a partir de 2007 que começa efetivamente esse processo da mobilidade social de um lado, mas o pior disso, o que provoca efetivamente isso é o custo da hotelaria no Brasil. O preço, o custo do Brasil hoje é um dos mais altos do mundo, então é muito mais barato, faça essa experiência um dia e tente pegar a família e ficar uma semana em Porto de Galinhas ou escolher um dos melhores resorts do Caribe e você vai ver que você vai economizar muito, isto inviabiliza totalmente. Estão, estimando 1 milhão de turistas e eu tenho afirmado que a copa vai vir exatamente 10% do que temos no anual, nós temos 5 milhões e se vierem 500 mil eu acho que é um número bastante razoável, porque é o custo Brasil, o custo Brasil inviabiliza.”

*Mário Carlos Beni - Professor Doutor; Tem experiência na área de Turismo. Atuando principalmente nos seguintes temas: Sistema Nacional de Turismo, Administração Pública e Turismo. Autor do livro mais utilizado pelas academias de turismo: Analise Estrutural do Turismo. É membro representante da Américas no Conselho de Ética da OMT - Organização Mundial do Turismo.

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