quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A exploração e a violência sexual contra crianças e adolescentes


Uma constância nas estradas maranhenses, aos olhos de quem quiser ver e ninguém faz nada.


Aproveitei os dias do feriado de carnaval para viajar pelo interior do Maranhão e especialmente pela região sul do Estado para atualizar meu banco de imagens e, ainda, ver como andam as coisas por esta região que é um dos maiores atrativos turísticos do Brasil.

Mas, minha viagem ao todo foi perdendo o encanto com o número desenfreado de crianças e adolescentes se prostituindo nas estradas que cortam o estado. Os postos de combustíveis, na sua grande maioria, têm sido ponto de prostituição, uma vez que nestes locais caminhoneiros e motoristas param para pernoitar e descansar. É neste momento em que muitas destas crianças, quase sempre levada por um adulto, se oferecem para estes “caminhoneiros” no intuito de ganhar algum dinheiro.

O governo até tem combatido esta chaga em nossa sociedade, mas os efeitos ainda estão aquém do desejado. Todo indivíduo mais atento já deve ter reparado na quantidade de menores em situação vulnerável, sendo alvo fácil de “bestas” transvestidas de caminhoneiro e outros profissionais, que dando vazão aos seus instintos bestiais, usam e abusam de crianças e adolescentes pelas estradas maranhenses.

Ao transitar durante o dia, ou mesmo à noite, é possível ver uma quantidade enorme de crianças e adolescentes na busca de “vida fácil”, parados nas calçadas, postos de combustíveis, bares ou circulando pelas vias. Alguns com semblantes fechados, outros mais exibicionistas. Mas, o que se percebe mesmo são corpos ainda em processo de formação e crescimento. E o pior sem nenhuma orientação na cabeça, quer seja pela escola ou pais, estes últimos quase sempre não estão nem um pouco preocupados de onde ou com quem essa criança está.

Isto tem sido a tônica na vida de muitas destas crianças, que têm na prostituição uma válvula de escape para fugir dos maus tratos, violência doméstica e até mesmo a falta do que comer.  São cenas de um filme que já se sabe como será o final e fazem parte do cotidiano de diferentes localidades de nosso estado. E nossas autoridades a tudo assiste com o amém de toda sociedade. Onde está os Conselhos tutelares destes municípios?

Numa breve parada para abastecimento de nosso carro na Cidade de Porto Franco tive o desprazer de observar uma quantidade de aproximadamente 10 crianças que nos seus semblantes não tinham mais que dez talvez doze anos, acompanhadas de alguns adultos, consumindo bebidas alcoólicas e se oferecendo aos que ali chegavam. E o pior era que a bebida era comprada ali mesmo no Posto de bandeira Petrobras. Logo a Petrobras que tanto se vangloria de fazer muito pelo país e que os postos que ostenta sua bandeira tem servido de lugar para profanação de corpos e pessoas tão frágeis, como é o caso de nossas crianças.

Que contrassenso! Uma empresa que leva o nome do Brasil, sendo pano de fundo e ambiente para a maior degradação humana, a prostituição de nossas crianças. Interpelei duas destas crianças que pagavam por cervejas no mesmo local em que eu pagava meu combustível e elas foram claras, que estavam ali na busca de parceiros e que o posto não coloca nenhuma objeção na venda de bebidas para elas.

A minha indignação foi total. Perguntei ao frentista se era verdade e porque ele vendia bebidas alcoólicas a menores. Ele se defendeu dizendo que não tinha sido vendida ali, coisa que eu acabara de presenciar. Disse mais ainda, que aquele local era sim ponto de prostituição e que o Conselho Tutelar de Porto Franco, sabia de tudo, de onde vinha as crianças, de quem eram filhas e não fazia nada.

Fica aqui minha indignação com tamanha brutalidade, pois além de explorarem nossas crianças, estão condenando as mesmas a um futuro incerto. Para muitos que percebem estas cenas ou situações que, ao certo, deveriam causar indignação ou horror, mas que, como foi possível constatar, acaba por passar despercebidas no cotidiano de quem transita por estes lugares. E o mais nojento: despertam o interesse de indivíduos adultos que, sem nenhum pudor, acabam por explorar estas vítimas, deixando como herança, gravidez precoce, e doenças sexualmente transmissíveis..

Segundo a Constituição Federal, artigo 227, fica declarado que: “é dever de todos proteger a criança e o adolescente contra todas as formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão’’ e estabelece punições na legislação para os crimes de abuso, violência e exploração sexual.

Na situação que presenciei, percebi muitos adultos entre os caminhões estacionados, que ao meu entender eram “amigos, aliciadores ou pais” destas crianças. Tentei fotografar, mas fui tomado por sentimentos como insegurança, revolta, e, até mesmo, medo. Pois nestes ambientes estão na maioria das vezes, permeados por outras problemáticas como tráfico de drogas, consumo deliberado de substâncias lícitas e ilícitas e não estava preparado para tanto, mas mesmo assim consegui tirar fotos, mesmo sem qualidade, mas estão ai para comprovar o que digo.

Seguir viagem e durante todo percurso pude observar que mesmo com toda campanha dos governos Federal, Estaduais e Municipais, constatei que tal realidade não se limita a essa região, nem ao turno da noite, sendo possível visualizar casos semelhantes durante o dia e em todo percurso em que fizemos. Ou seja, fora 2.500 quilômetros percorridos e na maioria dos postos e bares de beira de estrada ali estavam um menor em estado de risco.

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