Nem mesmo o forte calor durante toda a manhã de ontem foi o suficiente para inibir o manifesto de centenas de pessoas que se reuniram em uma passeata na Avenida Litorânea, em São Luís, que clamou por paz e justiça tendo como referência o assassinato do blogueiro e jornalista Décio Sá, alvejado com cinco tiros no dia 23 de abril. No feriado do Dia do Trabalho, muitas pessoas decidiram comemorá-lo cobrando de órgãos públicos mais celeridade para a solução do caso, uma vez que ainda não foram identificados e nem localizados os responsáveis pela barbárie contra o jornalista.
O ato público foi organizado pelo movimento Amigos e Leitores de Décio Sá, formado por amigos, familiares e admiradores do jornalista. A passeata – em um trecho de cerca de 2 quilômetros - foi iniciada por volta das 10h30, partindo do parquinho de diversões da Avenida Litorânea e seguiu em direção ao Bar Estrela do Mar, onde aconteceu o assassinato de Décio Sá.
A caminhada reuniu aproximadamente 600 pessoas, todas vestidas com uma camiseta branca com a foto do jornalista estampada na frente e as palavras Justiça e Paz como forma de homenagear.
Passeata – A viúva de Décio Sá, Silvana Sá, compareceu à manifestação muito emocionada com as homenagens que estavam sendo feitas para o seu marido.
Dois carros de som foram utilizados para conduzir os manifestantes durante todo o trajeto. De acordo com os organizadores do movimento, um dos principais objetivos da caminhada foi pedir pela elucidação do assassinato do jornalista, além de outros crimes considerados de encomenda no Maranhão.
“A sociedade em geral já não mais aguenta toda essa situação. É preciso mudar essa realidade”, disse Fábio Câmara, um dos principais articuladores do manifesto. Ao longo do translado, várias homenagens foram feitas ao jornalista, todas acompanhadas por calorosas salvas de palmas.
O vice-governador do Maranhão, Washington Luís Oliveira, esteve presente na caminhada acompanhando a manifestação do início ao fim. Ao lado da ex-prefeita de São Luís e ex-secretária de Estado de Desenvolvimento Agrário Conceição Andrade, ele disse que todos os esforços estão sendo feitos para que sejam encontrados e punidos os responsáveis pela execução do jornalista. “Nós não vamos aceitar que se instale o clima de violência no estado. Essa manifestação é, acima de tudo, um ato contra essa cultura do atraso. A saída para isso é o diálogo, a fraternidade e o respeito pelo próximo”, afirmou o vice-governador.
Outros representantes da classe política maranhense também estiveram presentes da passeata, como os secretários estaduais de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), Victor Mendes; de Trabalho e Economia Solidária (Setres), José Antonio Heluy; o deputado federal Francisco Escórcio (PMDB), o deputado estadual Roberto Costa (PMDB), o vereador Batista Matos (PPS), entre outros.
De acordo com a deputada estadual Eliziane Gama (PPS), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, é de extrema importância que sejam encontrados os responsáveis pela execução de Décio Sá, para evitar que esse tipo de crime se torne comum no Maranhão.
“A perpetuação desse tipo de crime acontece pela impunidade dos mandantes e essa caminhada vem justamente combater isso”, disse a parlamentar, que não descartou a possibilidade de que seja criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para que seja investigada mais profundamente a execução de Décio Sá.
Jornalistas dos mais diversos veículos de comunicação da cidade também participaram do ato público, não apenas para fazer a cobertura da manifestação, mas também para pedir por paz e justiça. De acordo com o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Maranhão, Leonardo Monteiro, a sociedade em geral foi muito atingida profundamente pelo crime contra Décio Sá.
“Toda a sociedade percebe que estamos vivendo um clima de insegurança. É inadmissível essa situação. Por isso, a sociedade está dando o seu apoio e mostrando que está indignada com tudo isso” disse Monteiro.
A mesma opinião foi compartilhada pelo jornalista e blogueiro Luis Cardoso. “Essa é uma homenagem não apenas para Décio. Esse é um protesto contra a impunidade, pois a sociedade não mais aceita os crimes de pistolagem que ocorrem no Maranhão”, afirmou.
A passeata foi encerrada em frente ao Bar Estrela do Mar, onde Décio Sá foi executado com cinco tiros. No local, o Coral São João, sob a regência de Fernando Moucherek, fez uma homenagem ao jornalista, cantado a Canção da América e o Hino Nacional Brasileiro. Ao final, foram soltos balões brancos, em um dos momentos mais emocionantes de toda a passeata.
Pessoas protestam contra a impunidade em crimes
Durante a passeata, várias pessoas aproveitaram para protestar contra a impunidade. Alguns manifestantes usaram o momento para lembrar os seus entes queridos, que também foram mortos brutalmente, e denunciar que os responsáveis por esses crimes continuam soltos.
Uma das pessoas foi Wellington Assunção, irmão de José Raimundo Nunes, o Nengo, produtor de uma banda de música do estado, que foi executado com um tiro na cabeça no dia 21 de agosto do ano passado, na Avenida São Luís Rei de França, no bairro Turu. “Nós estamos clamando por justiça, pois já vai fazer um ano e até agora não foi solucionado o caso”, afirmou Assunção.
O ex-secretário de Administração do município de Nova Olinda, Roni Melo, que foi assassinado com 13 facadas em fevereiro do ano passado, também foi lembrado. O autor do crime, Moisés Lima Costa, continua foragido. “Enquanto as pessoas não forem punidas, crimes como esses continuarão acontecendo”, frisou Leandra Melo, uma das sobrinhas do ex-secretário.
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