quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O artesanato pirata de São Luís

Turistas incautos e nativos desatentos estão sendo ludibriados por inúmeras lojas de artesanato espalhadas pela cidade, notadamente na área da Praia Grande, Centro Histórico de São Luís, capital patrimônio da humanidade. A maioria esmagadora dos objetos artesanais, que são comercializados nas lojas, não são provenientes do estado, mas, trazidas de outros lugares, tais como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba, Piauí, Pará e até da Bahia. Os comerciantes podem revender produtos de outros locais, no entanto, os objetos ostentam a ilícita frase: “Lembrança de São Luís”, o que constitui propaganda enganosa.

Produtos cerâmicos figurativos de Pernambuco, roupas em algodão cru e tratado, oriundas do Ceará, redes provenientes da Paraíba (embora exista boa produção de redes nos municípios maranhenses de São Bento e Rosário), colares com sementes de açaí, que são trazidas do Pará, veleiros feitos com conchas e búzios, e até bolsas e chapéus de palha são vendidos como se fossem produzidos no Maranhão.

De original mesmo sobra pouco, tais como o artesanato à base de fibra de buriti (bolsas, sandálias, chapéus), azulejos pintados com nomes de ruas ou logradouros pitorescos de São Luís, camisas ostentando imagens que abordam o patrimônio histórico, figuras femininas tendo como base a semente de babaçu e algumas peças de renda oriundas do município da Raposa (com ressalvas, já que a maioria das peças da Raposa é, na verdade, revendida, sendo trazidas do Ceará). Não é excessivo lembrar que o artesanato das mulheres da Raposa tem origem cearense.

Já se tornou bastante comum a presença de micro-ônibus, caminhões ou vans estacionados na Praia Grande, descarregando os produtos advindos de outros estados, disputados avidamente pelos donos de lojas de artesanato da área. Segundo André Lira, proprietário da “São Luís Artesanato”, situada na rua da Alfândega, Praia Grande, os produtos locais não conseguem competir com os produtos vindos de outros estados, além de a mão-de-obra de fora ser mais barata. “Não temos também uma produção suficiente para atender à demanda turística, e os incentivos estaduais são pequenos, o que nos leva a tomar essa atitude, o que é uma pena, já que o Maranhão possui um grande potencial para desenvolver seu artesanato e se destacar no cenário nacional em tal área”, disse.

Grande parte das peças artesanais é encomendada, e os objetos já trazem pintada a frase que indicaria que o produto é de São Luís, o que caracteriza uma verdadeira pirataria.

A prática é danosa para o desenvolvimento da atividade comercial como um todo. Existe uma grande desinformação da população local e dos turistas sobre o artesanato maranhense, o que estimula o esquema fraudulento. Os comerciantes estão interessados no lucro e muitos artesãos de outros estados ainda não conhecem o real valor do que produzem, vendendo as peças a um preço muito baixo, o que inviabiliza a produção local. “Estamos trabalhando com os artesãos, buscando encontrar soluções para enfrentar esse problema, e um dos caminhos é a busca de uma identidade para o artesanato maranhense, como é o caso das rendas produzidas pelas mulheres da Raposa, cujas peças são bem trabalhadas e, portanto, mais caras do que o produto que vem do Ceará, com peças produzidas de forma mais rápida e grosseira. Tentamos incentivar a qualidade do produto visando mudar a realidade, gerando assim melhoria da qualidade de vida dos artesãos”, informou o designer Marcelo Medeiros, consultor do SEBRAE.

Enquanto isso não acontece, muita gente continua sendo enganada, comprando gato por lebre...

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