quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Viajantes realizam trabalho voluntário em comunidades carentes em troca de experiências culturais e sociais

Na praia, crianças brincam no mar de Zanzibar, na Tanzânia - Volunteer Vacations / Divulgação

África, Ásia e América Latina são os continentes que mais atraem este tipo de turista

RIO - Em maio deste ano, poucos meses depois de chegar do Quênia, a pernambucana Talita Guedes já se preparava para arrumar as malas novamente. Depois de dez dias ensinando empreendedorismo para mulheres carentes na favela Kibera, em Nairóbi, voltou inspirada para começar um projeto semelhante no Brasil. O destino da viagem era a cidade de Manari, zona rural do sertão pernambucano, onde ela reuniu onze voluntários para montar bibliotecas em escolas carentes da região.

O tempo que passou ensinando na África e o projeto que agora oferece no Brasil são formas de turismo voluntário, que tem crescido no país. Entre 2013 e 2014, o número de pessoas que procuraram por esta experiência na Central de Intercâmbio e Viagens (CI), uma das operadoras que trabalham com o segmento, cresceu 50%. Segundo a agente de viagens Emília Miguel, da Experimento Intercâmbio Cultural, atividades com crianças ou trabalhos na preservação de animais, principalmente na África e na Ásia, são os programas mais populares. Mas há opções no Brasil, Oriente Médio e na América Latina.

— Normalmente, quem busca esse tipo de experiência já fez aquele “turismo mais tradicional” e busca um local inusitado, não só para conhecer, mas com vontade de provocar um impacto positivo — observa Emília.

Experiência prévia com o voluntariado é desejável mas, a especialista ressalta: não há regras. O importante é chegar de coração aberto e estar preparado para as situações que podem surgir em locais com menos conforto e infraestrutura:

— Não à toa são lugares que precisam de voluntários. É preciso ir bem informado para não correr o risco de atrapalhar. As diferenças culturais podem ser grandes.

Felino carinhoso. Trabalho com animais em Johannesburgo - Divulgação / CI/divulgação
Para Mariana Madureira, gestora do Encontro Turisol, que reuniu projetos de turismo solidário, comunitário e voluntário este ano, em Brasília, o avanço mostra uma mudança na forma como a sociedade consome:

— Recebemos 180 profissionais diretamente envolvidos neste tipo de ação, o que representou crescimento em relação ao ano passado. Este avanço está associado ao consumo consciente, não só do dia a dia, mas também em relação a viagens. As pessoas não querem mais só usufruir de um lugar, mas também deixar um impacto positivo por onde passam.

ROTEIROS: COLOCANDO A MÃO NA MASSA
Escolher o destino de viagem para fazer turismo voluntário não é o suficiente. Antes de arrumar as malas, é preciso saber que tipos de ocupações são oferecidas no local e se a sua competência pode, de fato, contribuir com a comunidade em que se pretende atuar. Segundo Mariana Serra, cofundadora da Volunteer Vacations (VV), agência especializada em turismo voluntário — e que organiza programas em diversos países — além da vontade de ajudar, é preciso ter consciência de que o trabalho, ainda que voluntário, vai causar algum impacto no local:

— O que vemos, normalmente, são pessoas muito dedicadas e envolvidas. Mas é fundamental que o turista saiba como e se pode atuar em determinada função. Se não, acaba mais atrapalhando do que ajudando.

Tailândia. Aulas de reforço para crianças carentes - Divulgação / Volunteer Vacations/divulgação
A VV oferece trabalho voluntário em locais “mais incomuns”. Um deles é o ensino de skate para crianças em Cabul, na capital do Afeganistão. Outros programas da empresa incluem cuidar de crianças carentes em Porto Príncipe, capital do Haiti, ou em Nova Delhi, na Índia, e participar de atividades no sertão do Nordeste.

Os programas com crianças em áreas com baixos índices de desenvolvimento, aliás, estão entre os mais procurados, segundo os operadores especializados. Na Student Travel Bureau (STB) as opções vão desde recreação infantil, até aulas de reforço escolar e surfe. Há trabalhos com preservação de animais, empoderamento de mulheres, meio ambiente e também em asilos de idosos, na África, na Ásia e nas Américas.

Para se candidatar, é necessário ser maior de idade e ter nível intermediário de inglês, além de “coletividade e maturidade”, diz Rosana Lippi, gerente de projetos STB.

Vale lembrar que todos os programas são pagos e os preços costumam incluir um taxa de contribuição para o projeto local, hospedagem e alimentação no destino.

Segundo a agente de viagens Emília Miguel, da Experimento, os programas mais solicitados pelos viajantes costumam durar duas semanas e incluem três refeições diárias e hospedagem em casa de família.

NO BRASIL, TURISMO SOLIDÁRIO
Segundo Mariana Madureira, gestora do Encontro Turisol e do projeto Raízes Desenvolvimento Sustentável, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, há programas no Brasil que oferecem um tipo de turismo que difere do praticado na África e Ásia, em geral chamado de turismo solidário:

— No turismo solidário, a contribuição do turista é na preservação da cultura de uma região ou de um povo.

A atuação do viajante, neste caso, pode se dar pelo incentivo em atividades de apoio ao trabalho das comunidades, pelo consumo de produtos locais e na preservação da cultura regional, através dos projetos de imersão, que promovem vivência diária.

Campo. Agricultura no Quênia, na África - Volunteer Vacation
No Raízes, há pacotes para projetos de até seis dias para conhecer a cultura da região mineira. O projeto Tucum, no Ceará, é outro que incentiva este tipo de viagem.

— O turismo pode e deve ser uma experiência coletiva e não apenas pessoal — ressalta Mariana.

PROGRAMAS
As principais agências de turismo voluntário oferecem, principalmente, programas para a África e Ásia. Mas há opções dentro do Brasil, no Oriente Médio, na América Latina e atividades na Europa e nos Estados Unidos. Os pacotes normalmente incluem acomodação, refeições e transportes no destino. No Brasil, o mais comum é fazer o turismo solidário, que consiste na experiência voltada para a preservação e imersão na cultura local e no desenvolvimento econômico regional.

OPERADORES

Raízes do Desenvolvimento Sustentável. Com base em Minas Gerais, oferece pacotes de turismo solidário com roteiros de imersão cultural pelo Vale do Jequitinhonha. Um programa que inclui oficina de artesanato, acomodação e refeições custa R$ 2.870. localraizesds.com.br.

Rede Tucum. A organização divulga e discute projetos de turismo comunitário e solidário no Brasil, principalmente pelo Nordeste.tucum.org.

Brazil Eco-Travel. A agência organiza expedições, com preços sob medida, para grupos em projetos em Minas e no estado do Rio de Janeiro. brazil-ecotravel.com.

Student Travel Bureau. Pacote para o Nepal, de duas semanas, com três refeições ao dia e acomodação em casa de família por US$ 530. stb.com.br

Volunteer Vacations. Trabalho com crianças em Zanzibar, na Tanzânia: duas semanas, com acomodação e três refeições por dia, por US$ 2.4 mil. volunteervacations.com.br.

CI. Trabalho com crianças carentes na África do Sul por duas semanas. Acomodação e refeições a US$ 715. ci.com.br.

Experimento. Pacote para quatro semanas em projetos de música, ensino de informática ou inglês, com acomodação em casa de família, por US$ 1.782. experimento.com.br.

Fonte: http://oglobo.globo.com/

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